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Dobra

EXPERIÊNCIA DE EXISTIR NA PESQUISA EM ARTES COMO ATO POÉTICO:

O Ponto de Dobra e a ativação artística, Lamber a cidade

Te encontras na Dobra, dimensão territorial virtual onde estão os Experimentos para Lamber a Cidade e algumas notas sobre o processo que faz parte deste trabalho e que foi realizado no Doutoramento em Artes da Universidade Federal do Pará, a outra parte desta pesquisa é o Ponto, de onde alguns vieram e outros virão. Estas duas partes, tratam da mesma matéria, a Pesquisa em artes, as poéticas visuais, e se completam revelando todos os elementos de um projeto artístico realizado na universidade.

'Adoro cada canto da minha cidade, Belém, as esquinas sujas e escuras, ruas quebradas, canais e valas, horas fétidas, horas lavadas pela chuva, paredões pichados e mijados, construções carcomidas pela grande população de ratos que habitam o subterrâneo e a superfície de sua gordura, fachadas históricas que há tempos remontam a nossa orgulhosa colonização, eu as amo assim, uma cidade vivida e vívida.

 

Não espero que o poder consiga mudar a caótica urbanização de Belém, muito menos acredito que sua população se sinta responsável e assumam sua parte nesta desordem, caos social, assistencial, habitacional, sanitário, administrativo, de saúde, de meio ambiente, de educação, de saúde e mais. Não espero nada, apenas sigo amando-a.

A cidade das mangueiras, este grandioso ser vivo que cada vez mais raro nesta cidade mata a fome de alguns e abranda o calor de outros, o espécime importado das Filipinas, da Índia, ou do Paquistão se impõe como símbolo, de uma das capitais da grandiosa entidade: a Amazônia, reafirmando o frondoso status colonial, a quem eu também me entrego, assim como o “tu” ao invés do “você” que atravessa o oceano e navega pelo Rio Tejo chegando a Lisboa, e na volta fazendo uma escala entre os irmãos Lumière e o Cine Olimpya sobrevoa a Baía do Guajará a tempo de participar do Círio da Nazaré.

Venero esta cidade na mesma proporção que me reverencio ao poder original que a arte tem em realocar possibilidades que a priori não serão dignas da operacionalização racional da sociedade, mas que no final é o que irá lhe conferir valor histórico e mítico. 

Esta força da arte, é explanada por artistas e pesquisadores desde quando temos registros, e neste Memorial artístico-crítico se aponta como: “o que faz o artista fazer o que faz”, crença cega, desejo, obrigação. O artista serve ao poder original ainda que saiba que a Fita de Möbius o levará constantemente em cada ponto de dobra, de volta ao ponto que partiu.

Quem adultera as paredes que se sobrepuseram aos restos coloniais também corrompe o esqueleto mórbido que está em constante processo de edificação, em uma cidade a única resultante desta sistemática são os resíduos, as ruínas sobre a qual essa cidade crescerá, e assim como a urbe, a arte se alimenta dos restos, do que sobra do artista depois de iniciar, desistir, insistir e recomeçar.

Então a arte é resto? Eu diria que para além do que sobra a arte é o porvir no tempo presente, a despeito de títulos impactantes sobre a morte da arte, acredite, ela não morrerá, seu ciclo é composto por uma condição tal qual a fita do infinito, que transita por todo o caminho sem impor limites, uma transgressora que se expõe em infinitos tons e sub tons de sua existência, seja qual for sua posição no trilho do trem do tempo, a arte é futuridade.

Neste momento, o saldo desta peleja entre a artista e seus pontos de dobra, vem em luz, palavras e movimento, e com o fluxo brilhante da semântica de cada termo estruturado é decifrada em extratos, para alguns será compreendida em oração, para outros, palavras soltas que se entregam as superfícies da cidade e com o brilho de verbos em fluxo, batizaremos sua matéria como: Experimentos para Lamber a Cidade.'

Memorial artístico-crítico apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Pará como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutora em Artes, na Linha de Pesquisa 1, Pesquisa em Artes. Orientado pela Professora Doutora Valzeli Figueira Sampaio.

UFPA . ICA . PPGARTES . 2023

por Melissa Barbery

Belém , Pará . Brasil . Amazônia

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